Professores indicam temas para o Enem
05/09/2011 11h39
Não basta mergulhar nos livros didáticos, decorar regras de acentuação e caprichar na ortografia. Para se dar bem na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em outubro, é preciso conhecer a fundo assuntos da atualidade. Educadores ouvidos pelo Jornal da Tarde sugerem atenção especial a temas largamente discutidos neste ano, como o Código Florestal e o casamento gay.
A prova de redação do Enem aborda, tradicionalmente, temas de relevância nacional em política, sociedade ou cultura, de repercussão doméstica e com forte valorização dos direitos humanos. Por isso, é fundamental que o aluno tenha repertório para discutir esses assuntos com propriedade.
Na opinião da educadora do Colégio Marista Arquidiocesano, Cristina Helena Ferreira, a redação do Enem "substitui" uma entrevista pessoal com o candidato a uma vaga na universidade. "A redação avalia como o estudante pensa e se articula, como reivindica seus direitos e quais são seus valores. Em resumo, o que ele tem a oferecer."
Neste ano, diz a professora Cristina, os alunos do Arquidiocesano escreveram sobre homofobia e união estável, energia nuclear (motivada pelo vazamento da usina de Fukushima, no Japão), corrupção durante os preparativos para a Copa e o papel da mulher na sociedade com a eleição de Dilma Rousseff à Presidência. "São assuntos que requerem atenção para quem fará o Enem", avalia. Na escola, os temas das redações são propostos pelos próprios alunos no ensino médio.
Professora de Redação do Ensino Médio do Colégio Equipe, Áurea Rampazzo acredita que o exame cobra uma atitude crítica. "É a postura que o jovem deve ter do seu entorno. Ele precisa ter coragem de questionar, desconfiar das grandes verdades e propor uma intervenção viável para essa situação", indica.
Simone Ferreira Gomes da Motta, professora do Colégio Etapa, diz que assuntos como o caso das modelos que não desfilaram na São Paulo Fashion Week 2011 porque estavam abaixo do peso recomendado podem ser abordados na redação. "A partir disso, podemos falar sobre como coibir os transtornos alimentares e discorrer sobre as mortes por anorexia", sugere. "Já os ataques a homossexuais e a aprovação da união homoafetiva poderão retomar discussões sobre preconceito e desigualdade de gêneros."
A estudante Ana Carolina Cartillone, de 17 anos, também tem seu palpite sobre o tema da redação, endossado pela opinião dos professores: a participação dos jovens nas transformações políticas de um país, especialmente no caso das mobilizações via redes sociais. Já Natália Doratioto Serrano Faria Braz, de 21 anos, está atenta à Primavera Árabe (manifestações que questionam os regimes autoritários em diversos países do Oriente Médio) e diz que lê tudo que encontra sobre o tema.
A prova de redação do Enem será no dia 23 de outubro, mas outras disciplinas serão avaliadas no dia 22. Estão inscritos para esta edição 5,3 milhões de estudantes.
‘Estudantes devem evitar clichês’
O principal diferencial da redação do Enem é o formato situação-problema, que exige não apenas a discussão escrita do tema proposto, mas obriga o vestibulando a apresentar uma medida de intervenção. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem do JT, é nesse ponto que os estudantes abusam dos clichês e perdem pontos. Apontar a educação ou o combate à corrupção como solução para os problemas do País, por exemplo, é uma forma ‘pobre’ de desenvolver um tema.
O texto deve ser autoral, mostrando como o aluno pensa sobre o tema sugerido, e deve evitar frases feitas, como "no princípio" e "concluindo", recomenda Áurea Rampazzo, do Colégio Equipe. As coletâneas propostas no enunciado da redação - textos, charges e ilustrações - devem estar relacionadas na prova como um dos itens a favor ou contra à tese que o vestibulando irá defender. Jamais a coletânea deve ser transcrita, pois isso levará à perda de pontos.
Outra dica é evitar o uso de palavras incomuns no dia a dia do estudante. É frequente errar a grafia ou empregar o termo em sentido diferente de seu significado. O erro mais frequente, na opinião dos professores de redação, é usar a "educação" ou o "combate à corrupção" como medidas de intervenção para os problemas enunciados na redação.
"O Enem não quer uma solução mágica e, sim, um cidadão crítico, capaz de analisar um problema, se posicionar diante dele e propor algo para transformá-lo", afirma Cristina Helena Ferreira, do Colégio Marista Arquidiocesano.
Destaca-se o estudante que tiver bastante leitura e souber incrementar sua defesa, por exemplo, citando medidas já adotadas pelo governo ou o modo como a sociedade lida com o tema.
Menção preconceituosa e que viole os direitos humanos invalidará a prova. "Se o aluno desrespeitar esses princípios terá a prova anulada", diz Simone Ferreira Gonçalves da Motta, do Etapa. Como nos demais vestibulares, a prova deve ser redigida em letra legível, respeitando a norma culta da língua, com coesão e coerência. O aluno precisa escrever, no mínimo, sete linhas para não ter a redação anulada.
Até redes sociais viram fontes de informação
Natália Doratioto Serrano Faria Braz, de 21 anos, monta sua redação como se organizasse as peças de um quebra-cabeças. "Sempre tive dificuldades, mas assim não me perco", diz a jovem, que estuda no Colégio Etapa e presta Medicina nas principais universidades públicas do País.
Entre elas, Natália tem especial predileção pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que usa o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de seleção.
Para ela, é mais fácil definir os argumentos estabelecendo um eixo principal de sua tese, no rascunho, o que evita repetições e contradições. Para se manter informada sobre atualidades, além de prestar atenção nas aulas, Natália lê jornais, assiste ao noticiário e vê documentários.
Já a aluna do Colégio Marista Arquidiocesano, Ana Carolina Cartillone, de 17 anos, recorre às redes sociais para se informar sobre os principais debates do País. "No Facebook tem link para algumas notícias e no Twitter também dá para ver sobre o que as pessoas estão falando", diz.
Estruturalmente, Ana Carolina usa um parágrafo para a introdução ao tema, três para a argumentação de sua tese e mais um - o último - para propor uma intervenção. "O tema é sempre social. A prova não é difícil", opina a estudante. "O problema é o tempo", completa.
ASSUNTOS PROVÁVEIS
MEIO AMBIENTE
Novo Código Florestal
Vazamento de energia nuclear em Fukushima
Combustíveis alternativos
Alterações climáticas no Brasil
CORRUPÇÃO
Copa do Mundo no Brasil
Nepotismo e tráfico de influência nos bastidores do governo
SOCIEDADE
Aprovação da união estável entre casais homossexuais
Homofobia: ataques a gays
Força da mulher com a eleição de Dilma Rousseff como presidente
COMPORTAMENTO
Distúrbios alimentares
Modelos muito magras não desfilaram na ‘SP Fashion Week’
POLÍTICA
Papel dos jovens na organização de movimentos políticos
Auxílio das redes sociais nas mobilizações da juventude
Protesto por educação no Chile
TEMAS RECENTES
2010: O trabalho na construção da dignidade humana
2009: O indivíduo frente à ética nacional
2008: Como preservar a floresta Amazônica
2007: O desafio de se conviver com as diferenças
2006: O poder de transformação da leitura
2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira
2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação
2003: A violência na sociedade brasileira - como mudar as regras desse jogo
(Isis Brum - Jornal da Tarde) (c@f)
A prova de redação do Enem aborda, tradicionalmente, temas de relevância nacional em política, sociedade ou cultura, de repercussão doméstica e com forte valorização dos direitos humanos. Por isso, é fundamental que o aluno tenha repertório para discutir esses assuntos com propriedade.
Na opinião da educadora do Colégio Marista Arquidiocesano, Cristina Helena Ferreira, a redação do Enem "substitui" uma entrevista pessoal com o candidato a uma vaga na universidade. "A redação avalia como o estudante pensa e se articula, como reivindica seus direitos e quais são seus valores. Em resumo, o que ele tem a oferecer."
Neste ano, diz a professora Cristina, os alunos do Arquidiocesano escreveram sobre homofobia e união estável, energia nuclear (motivada pelo vazamento da usina de Fukushima, no Japão), corrupção durante os preparativos para a Copa e o papel da mulher na sociedade com a eleição de Dilma Rousseff à Presidência. "São assuntos que requerem atenção para quem fará o Enem", avalia. Na escola, os temas das redações são propostos pelos próprios alunos no ensino médio.
Professora de Redação do Ensino Médio do Colégio Equipe, Áurea Rampazzo acredita que o exame cobra uma atitude crítica. "É a postura que o jovem deve ter do seu entorno. Ele precisa ter coragem de questionar, desconfiar das grandes verdades e propor uma intervenção viável para essa situação", indica.
Simone Ferreira Gomes da Motta, professora do Colégio Etapa, diz que assuntos como o caso das modelos que não desfilaram na São Paulo Fashion Week 2011 porque estavam abaixo do peso recomendado podem ser abordados na redação. "A partir disso, podemos falar sobre como coibir os transtornos alimentares e discorrer sobre as mortes por anorexia", sugere. "Já os ataques a homossexuais e a aprovação da união homoafetiva poderão retomar discussões sobre preconceito e desigualdade de gêneros."
A estudante Ana Carolina Cartillone, de 17 anos, também tem seu palpite sobre o tema da redação, endossado pela opinião dos professores: a participação dos jovens nas transformações políticas de um país, especialmente no caso das mobilizações via redes sociais. Já Natália Doratioto Serrano Faria Braz, de 21 anos, está atenta à Primavera Árabe (manifestações que questionam os regimes autoritários em diversos países do Oriente Médio) e diz que lê tudo que encontra sobre o tema.
A prova de redação do Enem será no dia 23 de outubro, mas outras disciplinas serão avaliadas no dia 22. Estão inscritos para esta edição 5,3 milhões de estudantes.
‘Estudantes devem evitar clichês’
O principal diferencial da redação do Enem é o formato situação-problema, que exige não apenas a discussão escrita do tema proposto, mas obriga o vestibulando a apresentar uma medida de intervenção. Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem do JT, é nesse ponto que os estudantes abusam dos clichês e perdem pontos. Apontar a educação ou o combate à corrupção como solução para os problemas do País, por exemplo, é uma forma ‘pobre’ de desenvolver um tema.
O texto deve ser autoral, mostrando como o aluno pensa sobre o tema sugerido, e deve evitar frases feitas, como "no princípio" e "concluindo", recomenda Áurea Rampazzo, do Colégio Equipe. As coletâneas propostas no enunciado da redação - textos, charges e ilustrações - devem estar relacionadas na prova como um dos itens a favor ou contra à tese que o vestibulando irá defender. Jamais a coletânea deve ser transcrita, pois isso levará à perda de pontos.
Outra dica é evitar o uso de palavras incomuns no dia a dia do estudante. É frequente errar a grafia ou empregar o termo em sentido diferente de seu significado. O erro mais frequente, na opinião dos professores de redação, é usar a "educação" ou o "combate à corrupção" como medidas de intervenção para os problemas enunciados na redação.
"O Enem não quer uma solução mágica e, sim, um cidadão crítico, capaz de analisar um problema, se posicionar diante dele e propor algo para transformá-lo", afirma Cristina Helena Ferreira, do Colégio Marista Arquidiocesano.
Destaca-se o estudante que tiver bastante leitura e souber incrementar sua defesa, por exemplo, citando medidas já adotadas pelo governo ou o modo como a sociedade lida com o tema.
Menção preconceituosa e que viole os direitos humanos invalidará a prova. "Se o aluno desrespeitar esses princípios terá a prova anulada", diz Simone Ferreira Gonçalves da Motta, do Etapa. Como nos demais vestibulares, a prova deve ser redigida em letra legível, respeitando a norma culta da língua, com coesão e coerência. O aluno precisa escrever, no mínimo, sete linhas para não ter a redação anulada.
Até redes sociais viram fontes de informação
Natália Doratioto Serrano Faria Braz, de 21 anos, monta sua redação como se organizasse as peças de um quebra-cabeças. "Sempre tive dificuldades, mas assim não me perco", diz a jovem, que estuda no Colégio Etapa e presta Medicina nas principais universidades públicas do País.
Entre elas, Natália tem especial predileção pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que usa o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de seleção.
Para ela, é mais fácil definir os argumentos estabelecendo um eixo principal de sua tese, no rascunho, o que evita repetições e contradições. Para se manter informada sobre atualidades, além de prestar atenção nas aulas, Natália lê jornais, assiste ao noticiário e vê documentários.
Já a aluna do Colégio Marista Arquidiocesano, Ana Carolina Cartillone, de 17 anos, recorre às redes sociais para se informar sobre os principais debates do País. "No Facebook tem link para algumas notícias e no Twitter também dá para ver sobre o que as pessoas estão falando", diz.
Estruturalmente, Ana Carolina usa um parágrafo para a introdução ao tema, três para a argumentação de sua tese e mais um - o último - para propor uma intervenção. "O tema é sempre social. A prova não é difícil", opina a estudante. "O problema é o tempo", completa.
ASSUNTOS PROVÁVEIS
MEIO AMBIENTE
Novo Código Florestal
Vazamento de energia nuclear em Fukushima
Combustíveis alternativos
Alterações climáticas no Brasil
CORRUPÇÃO
Copa do Mundo no Brasil
Nepotismo e tráfico de influência nos bastidores do governo
SOCIEDADE
Aprovação da união estável entre casais homossexuais
Homofobia: ataques a gays
Força da mulher com a eleição de Dilma Rousseff como presidente
COMPORTAMENTO
Distúrbios alimentares
Modelos muito magras não desfilaram na ‘SP Fashion Week’
POLÍTICA
Papel dos jovens na organização de movimentos políticos
Auxílio das redes sociais nas mobilizações da juventude
Protesto por educação no Chile
TEMAS RECENTES
2010: O trabalho na construção da dignidade humana
2009: O indivíduo frente à ética nacional
2008: Como preservar a floresta Amazônica
2007: O desafio de se conviver com as diferenças
2006: O poder de transformação da leitura
2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira
2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação
2003: A violência na sociedade brasileira - como mudar as regras desse jogo
(Isis Brum - Jornal da Tarde) (c@f)
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