Teclar é preciso e se comunicar é a alma do negócio. Mas, no meio de tantas modernidades, como ficam as relações humanas?
Publicado em 21/08/2011 | TATIANE BONDE, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
A comunicação dos dias de hoje é instantânea. Fala-se com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, a hora que se quiser. Falar, na verdade, não é o termo mais adequado. Hoje se tecla. Com a tecnologia, a comunicação mudou e a conversa do olho no olho, das confidências à beira do ouvido ou do papo sério em família foi, aos poucos, sendo substituída pelo frenesi das redes sociais. São poucos caracteres para contar toda uma vida, mas o teclar tomou o espaço do falar e hoje faz parte da rotina diária. Amigos tuitam, namorados trocam torpedos, pais e filhos conversam pelo MSN e muita gente atualiza o Facebook.
Na defesa
Isolados? Eles garantem que não
“A gente conversa o tempo todo, com todo mundo. Falamos sobre tudo. É muito rápido”, conta Julia Marcassa. A pedido do Viver Bem, ela reuniu outros seis amigos para um bate papo em um shopping de Curitiba. O resultado: uma entrevista dinâmica e que em pouc o tempo virou ponto de passagem para vários outros adolescentes que ficaram sabendo do bate-papo via twitter.
Bastou sentar poucos minutos com o grupo para confirmar: eles escrevem o tempo todo. “Quando a gente chega na aula de manhã, já manda um twitter geral dando bom dia. Daí a gente comenta a aula, fala do professor, combina o que vai fazer depois”, explicam. “No nosso dia a dia, respirou, a gente tuita”, brinca Mariana Bastos, de 17 anos.
Para eles, o twitter virou um meio não só de interagir com quem conhecem, mas também de fazer novos amigos. “Nossos pais ficam preocupados. Eles sempre acham que pode ser um pedófilo que está do outro lado da tela. Mas a gente se cuida, conversa pela webcan, não cai em qualquer papo”, completa Mariana.
“O engraçado é quando a gente conhece pessoalmente os amigos da internet. Tem vezes que a gente fica parado, sem saber o que fazer. A gente se conhece muito bem, mas ao mesmo tempo nunca se viu. Nessas horas, a gente não sabe se abraça, se dá beijo no rosto ou se fica parado olhando. Pela internet não tem isso, não tem aquelas coisas que acontecem no cotidiano, que às vezes a gente não tem o que falar. Pela internet sempre tem assunto”, comenta Julia. Para eles, a vantagem é que se você foi lá, conheceu e não curtiu, volta pra casa, bloqueia a pessoa e pronto. Na vida real pode ser mais fácil ensaiar uma segunda chance.
Segundo a antropóloga Marilia Gomes de Carvalho, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), como a juventude é muito mais aberta às mudanças, é nos jovens que mais se notam as transformações da sociedade. Mas, para acompanhar esse novo jeito de ver e interagir com o mundo, os mais velhos também tiveram de se atualizar. “Uma vez eu postei que tinha me machucado e minha avó entrou no MSN correndo, perguntado se eu estava bem. Ela, meu avô e meus pais têm MSN. Chegou uma hora que eu até tive de bloquear minha mãe no twitter porque ela ficava só me controlando”, conta Julia Marcassa, de 16 anos.
Para quem não gosta das peculiaridades da comunicação virtual, a antropóloga faz um prognóstico tranquilizador. “A necessidade de se comunicar é uma das principais características da sociedade e isso nunca vai mudar. Para as gerações um pouco mais velhas pode até ficar o saudosismo da conversa olho no olho. Mas nós continuamos interagindo e talvez hoje as pessoas se comuniquem muito mais do que ontem.”
Papo complicado
Segundo os especialistas, é cedo para conhecer possíveis impactos desse novo jeito de interagir. “Ele é um reflexo das mudanças nas relações de trabalho que começaram nos anos 1990. Com a informatização, veio a instabilidade e a dificuldade das pessoas de fazerem planejamentos a longo prazo e criarem laços afetivos mais profundos. O presente passa a ser muito exaltado e os jovens que cresceram dentro dessa nova organização aprenderam que o importante é o aqui e o agora”, explica a socióloga Eliane Basilio de Oliveira, professora da Universidade Positivo.
Estudos vêm mostrando que quando os jovens usam demais as redes sociais, acabam estendendo o comportamento virtual para a vida real. “Eles se conectam e desconectam muito rápido. Não há compromisso. Se algo ou alguém lhes desagrada, eles bloqueiam”, explica a pedadoga Débora Creti, gestora do ensino médio do Colégio Positivo Ambiental.
As sequelas desse comportamento são a ansiedade e a depressão. “Para quem usa muito as redes sociais para se comunicar, ter o mínimo de paciência é chato porque na internet é tudo muito ágil. No mundo adulto, onde existe a hierarquia e os conflitos do trabalho, estamos perdendo a capacidade de conviver com o outro. Os jovens de hoje são mais imaturos do que nós éramos antigamente”, observa Danielle Lourenço, pedagoga especialista em tecnologias educacionais.
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